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Análise | Watch Dogs - PS4

"Watch Dogs" reúne o que há de melhor de "Assassin's Creed", "Splinter Cell" e "Far Cry" e ainda consegue firmar sua própria identidade ao criar uma cidade crível e novas mecânicas de jogo.

Porém, o maior inimigo da nova franquia da Ubisoft é "Grand Theft Auto V". Em comparação com Los Santos (aliás, comparação traçada por vezes pela própria Ubisoft), a Chicago virtual é uma cidade meio morta. Certos pontos do coração da metrópole são vazios, dando a impressão de que estamos em um feriado prolongado que os cidadãos aproveitaram para viajar.

A história, embora seja muito boa, se alonga demais e por vezes perde o fio da meada – o segundo ato, principalmente, poderia receber um 'resume aí fera' e ficar mais curtinho. Ainda assim, isso não tira o brilho do game, que faz com que o mundo contemporâneo seja bem representado com detalhes que vão das redes sociais ao perigo de estar o tempo todo conectado.

No geral, "Watch Dogs" é um ótimo game, pensado e construído para os novos consoles – as versões de PlayStation 3 e Xbox 360 são apenas uma sombra do potencial real do jogo. Este é um ótimo início de franquia e tem ideias que podem ser melhoradas e arestas para serem aparadas em futuras continuações.

PONTOS POSITIVOS

Boa história

Aiden Pearce é um anti-herói durão e esperto. Ele usa habilidades hackers para invadir a vida de qualquer pessoa e empresa para alcançar seus objetivos, mesmo que eles não sejam tão nobres – na verdade, Aiden é egoísta e dispensa o altruísmo dos outros.

Porém, por baixo do boné existe um cara amargurado que se martiriza pela morte da sobrinha, que foi assassinada pelos inimigos de Aiden. Ele consegue esquecer temporariamente de seus problemas bisbilhotando a vida dos cidadãos de Chicago, vendo quem está devendo para agiotas ou quem tem um parente doente – a vida de todos aparece no visor de seu smartphone.

A história vai se desenrolando e mostrando mais da personalidade de Aiden e seus aliados, o que é ótimo, já que são mais de 40 horas para ir do início ao fim do jogo. O problema é que alguns pontos do jogo são esticados e supervalorizados, principalmente o segundo ato, que se arrasta justamente para mostrar o quão cabeça dura é o protagonista.

Passando essa parte, "Watch Dogs" engrena e mostra uma boa história que mistura espionagem e ação com uma pitada de teoria da conspiração.

Muito conteúdo

"Watch Dogs" mistura um pouco de cada jogo de sucesso da Ubisoft nos últimos anos. Do mundo aberto de "Assassin's Creed" às espionagens e bugigangas de "Splinter Cell". Porém, isso não quer dizer que o game é um 'Frankenstein' maluco e sem identidade: na verdade, "Watch Dogs" tem muita personalidade e apresenta muitas novas ideias da produtora francesa.

Começando pela oportunidade de explorar uma cidade contemporânea e ligada aos costumes atuais, como troca de mensagens pelo smartphone e uso de redes sociais – existe até mesmo uma espécie de Foursquare –, onde os jogadores podem marcar os locais que passaram e virar 'prefeitos' de bares e restaurantes, tudo isso online e com direito de deixar presentes para outros jogadores que passarem pelo mesmo local mais tarde.

Essa rede social permite ver detalhes de lugares, como a estátua de Abraham Lincoln ou a antiga sede da prefeitura de Chicago, o que acrescenta um toque de cultura para o game.

Outra coisa herdada de "Assassin's Creed" é a quantidade de missões e colecionáveis disponíveis. Por exemplo, são 100 lugares para fazer check-in, dezenas de câmeras escondidas nas casas e outras tantas tarefas que você passará centenas de horas, talvez meses, até conseguir fazer tudo.

Mecânicas divertidas

Diferente de "GTA V", em que 90% das missões podem ser concluídas com um tiroteio básico, "Watch Dogs" tenta levar o mundo da espionagem eletrônica para os games. Algumas missões, como invadir o sistema da ctOS, empresa que faz a segurança da cidade de Chicago, podem ser feitas sem disparar um tiro sequer. Você pode hackear as câmeras de vigilância para invadir o sistema e sair de lá com o controle da cidade sem ter disparado uma bala.

Mas quando o tiroteio se faz necessário, "Watch Dogs" também é bem competente. Além de ter um arsenal bem completo, com pistolas, escopetas e outras tantas subcategorias que dariam medo até em Rambo.

Aiden pode se esconder nos cantos e usar o sistema de Focus, que diminui a velocidade do tempo para conseguir dar disparos certeiros na cabeça dos adversários ou simplesmente saltar por cima de carros desferindo chutes e voadoras incríveis – e dando um visual incrível aos combates.

Perseguições de carro

Como na maioria dos jogos em terceira pessoa, você vai dirigir muito em "Watch Dogs" e na maioria dessas missões você estará fugindo, seja da polícia, membros de gangues ou até mesmo de outros jogadores.

Conforme você abre novas habilidades de hacks, mais divertidas ficam as fugas motorizadas. Fechar cruzamentos é só o início: em partes mais avançadas do jogo você pode causar blackouts na cidade inteira e até mesmo interromper perseguições de helicópteros.

Nos níveis finais, a cidade vira, literalmente, um brinquedo na mão de Aiden. Nada escapa dos toques do celular dele. Dutos de gás e bloqueios de rua criam cenas de ação cinematográficas, incríveis e emocionantes.

Multiplayer consistente

A maior graça de jogar "Watch Dogs" é estar sempre correndo perigo, seja pelas missões bem construídas, seja pela ameaça de ter seu jogo invadido por outro jogador. Esse segundo caso adiciona uma pitada de imprevisibilidade que é emocionante.

Você pode, por exemplo, estar passeando pela cidade, mas, de repente, recebe uma notificação de que está sendo hackeado. Cabe a você descobrir quem é o hacker e impedir que ele roube seus dados. Isso pode ser feito de diversas formas, desde usar câmeras de segurança até tentar assustar a população ao redor. Depois de identificado, começa uma perseguição pela cidade para matar o invasor – e assim impedir que ele fique com seus dados.

O mais bacana é que isso faz parte da história – os invasores são do DeadSec, um grupo hacker que está de olho nas ações de Aiden. Mas se isso o incomoda, não tem problema, você pode desligar essas interações a qualquer momento no menu do seu celular – mas saiba que estará perdendo uma das coisas mais legais do jogo.

Existem também outras modalidades online com outros jogadores, como corridas, mata-mata e até um modo semelhante a capturar a bandeira. São bacanas, mas nada indispensável ou que você já não tenha experimentado antes em outros games.

PONTOS NEGATIVOS

Cidade fantasma?

A cidade de Chicago no mundo real é uma das metrópoles mais vivas e apinhadas de gente, mas isso não transparece no jogo. Em certos momentos, avenidas e praças parecem ser de São Paulo durante as folgas do final de ano: vazias, parece que todo mundo foi viajar para outro lugar.

Em outras situações, as pessoas nas ruas simplesmente não estão fazendo nada, só andando de um lado para outro, sem rumo.

É um pouco decepcionante ver esse tipo de comportamento em um jogo de nova geração, ainda mais depois de "GTA V", que mostrou uma vida absolutamente vibrante em Los Santos.

Dublagem poderia ser melhor

A versão dublada de "Watch Dogs" tem seus pontos altos e baixos. Enquanto a voz de Aiden combina com o personagem, o mesmo não pode ser dito dos outros personagens. Jordi, um dos comparsas de Aiden, é exemplo disso. A voz dele realmente não combina com seus trejeitos e expressões – e isso fica evidente quando você muda a dublagem para o inglês.

Porém, o que mais estranha é que Chicago parece ser uma 'sucursal' do Rio de Janeiro. Obviamente, nada contra os cariocas, mas o sotaque fluminense é carregado demais para deixar passar batido. Jacks (sobrinho de Aiden) e Nicole (irmã do protagonista) não enganam ninguém.

Enfim, a dublagem não é horrível, impossível de aguentar - pelo contrário, joguei "Watch Dogs" do início ao fim em português e a localização está ok, especialmente na imensa quantidade de textos presentes -, mas certamente poderia ser melhor.

Aliás, fica um toque: é possível configurar para ter as vozes no idioma original, em inglês, e todas as legendas e textos em português brasileiro.

Análise feita pela Uol Jogos
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Audrey Santos

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